composição de JET
Eu tinha passado há muito a idade da inocência. Conservava, porém, o meu quadro suspenso na parede, não por cima da lareira, mas no primeiro lance das escadas que conduziam ao primeiro andar. Podia, dessa forma, vislumbrar o movimento dos habitantes que rodopiavam entre as paredes revestidas a estuque, que escorriam humidade nos dias de Inverno, mas que eu não sentia porque já era um quadro na tela não sei de que pintor.
Tinha pedido, suplicado que me deixassem ali ficar. Queria poder coabitar com as fadas e os duendes, com o Pequenu, com a Blondina, embrenhar-me pela floresta de lilazes, onde eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, encontraria um príncipe todo vestido de branco, que entenderia toda a minha inocência e que me diria: vem, serás eternamente uma menina, a minha menina.
À medida que os anos passavam as pessoas que deslizavam pelas escadas iam trazendo notícias do mundo lá fora enquanto eu me mantinha inalterável naquele quadro, apenas retocando o meu cabelo e a boca de rubi com que me haviam pintado, em pinceladas precisas e quentes. Quente era também o meu peito que não se via, para quê, se, na verdade, eu era invisível ao tempo?
Conservo ainda essa tela. Suplico ainda: deixem-me aqui ficar.
Eu tinha, eu tenho a idade da inocência e vejo ao longe uma floresta de lilazes.
2 comentários:
Teresinha,desejo-te um 2010 fantástico.
Vamos falando.
Um beijo do Lobo
Está lindo este conto. Nele encontro medo, vida, morte e outras alucinações. (Sim, sei que é o título de um romance, mas é o que me faz lembrar....)
Aproveito para desejar
um bom 2010.
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