agosto 30, 2009

Assim seja

Assim seja, Jasmim, como tu queres.
Persegues-me pela casa como se tomasses conta de mim.
Esperas-me à porta porque sei que sentiste a minha falta.
Sei que me escolheste, por isso eu também te escolhi a ti.
Velas o meu sono e eu sinto-me segura contigo a meu lado.
Obrigada, meu querido Jasmim. Ficaremos juntos para sempre.
Sim, para sempre. Não há outro conceito de tempo para mim.

agosto 25, 2009

O'Neill

A proposta de leitura que a Menina Marota colocou AQUI foi esta:


A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde tudo recomeça.


(Poema de Alexandre O'Neill in "Rosa do Mundo- 2001 Poemas para o Futuro", pág.1635)


Não resisti a este belíssimo poema e comentei:

É isso mesmo que precisava encontrar agora:
"o jardim onde tudo recomeça".
E poder aí guardar a cor de uns olhos,
verdes ou não,
mas que fossem amêndoa
doce
no deserto.

agosto 23, 2009

GOLFINHOS - ROAZES DO SADO

A viagem terminava aqui. Já tinha visto golfinhos, já tinha estado muito mais perto deles, quase a tocar-lhes, mas esta viagem foi diferente.


A Bi, cadela mascote da Vertigem Azul, domina o espaço melhor do que ninguém e é uma companheira de viagem qual animadora sócio-cultural: também ela sabe saudar a tripulação dos barcos com que nos cruzamos. Nós acenamos, ela ladra!

Sem comentários...


Tivemos de esperar algum tempo até que os golfinhos resolvessem presentear-nos com a sua companhia.




Não sabemos por mais quanto tempo poderemos observá-los. O novo ferry para Tróia segue o mesmo percurso que eles, na viagem para o interior do rio.
Na zona onde eles pernoitam está a nascer uma marina desorganizada, sem qualquer controlo por parte das entidades competentes.
A marina do empreendimento turístico de Tróia tem barcos de grande porte e veleiros de todos os tamanhos.
As areias antes cheias de veraneantes de Setúbal, que se deslocavam para a praia a pé, no barco, estão vazias da gente pobre que labuta todos os dias e que agora, ou deixou de ir à praia, ou vai para a Figueirinha, que ficou repleta.
A sorte dos roazes do Sado será ditada pela suposta melhoria da qualidade de vida em Tróia e pela criação de alguns postos de trabalho.
Terá valido a pena?

Um obrigada à São que me acompanhou nesta antecipada viagem comemorativa das minhas cinquenta e duas primaveras. Vento no rosto, cabelos desalinhados e um azul que só existe aqui, num dia de sol e calor, num dia de contar apenas cada segundo, porque o futuro não interessa sabê-lo. Amanhã é sempre outro dia - que cliché mais gasto...

Rio Sado, 21 de Agosto de 2009

agosto 16, 2009

LIBERDADE DE PINTAR

Assim se chama este quadro de Vitória Biagiolli que descobri por mero acaso quando procurava uma imagem sobre o tema "pintar". E ainda bem que a descobri. Fiquei fã, tenho de lho dizer.
Eu também estou a pintar mas não é um quadro é uma mesa de cabeceira que aguardava por cuidados há anos e que hoje se sente muito feliz porque o seu dia chegou.

Estou a usar acrílico em pasta mas não gosto desta marca e não me lembro da outra, oh, não, que era em boiões. Continuam os blues e o Graça Moura não me sai da cabeça, o G.M. poeta, entenda-se, que não quero arranjar sarilhos a ninguém! Julgo ser um sinal para retomar alguma leitura sua, o que farei mais logo depois da sesta, oh, yeah.

Faço um intervalo para um café no Inter que está cheio de gente que não é daqui porque hoje é domingo, está calor, e todos querem ir para a praia menos eu. Mas a memória é traiçoeira, ai se é, e leva-me por caminhos sinuosos que não queria retomar agora mas paciência, não há como afugentar este pensar, oh, não, e acabo por ficar blue ao meio-dia de um domingo de verão.

Regresso a casa, não à pintura, mas a este diário de coisas sentidas. Uma catarse semi velada. Uma tentativa de me purgar.
Hoje será domingo?
Será que está mesmo calor lá fora?
Será que estou mesmo a pintar e só fui tomar um café ao Inter?
Poderei apagar o ficheiro de algumas memórias do meu disco rígido?
Que nome dar a esta sensação de vazio quando está tanta gente no supermercado a fazer compras para ir para a praia?
Ah, Vasco, tenho de te reler, oh yeah, e talvez enviar-te, por email, uma lágrima que me turva a visão do que há-de vir.

agosto 15, 2009

BLUES

Eu estava a ouvir blues porque hoje
acordei assim mesmo blue e saí para a rua
aberta aos passageiros do tempo, yes,
isso mesmo e cruzei-me com diversos
que me dizem estás bem oh yeah tens
óptimo aspecto. Continuava a ouvir blues
que me enchiam o vazio e achava que as
pessoas ou não viam bem ou não sabiam
ler os olhos que são o espelho da alma.

Um pouco de sombra colorida nas pálpebras
poderia tê-los enganado, sim, e verem o reflexo
do azul sulfato na minha boca que sorria.
Porque é bom, oh se é, dizerem-nos que estamos
bem ainda que as entranhas se emaranhem e se
sinta um enjoo aqui e além que não sabemos definir
mas que nos faz revirar o estômago, oh yeah.

Blues por blues fico com a música que enche
pequenos pedaços da casa e esqueço os passageiros
que me dizem tão bem de mim e eu sem saber.

Que venha a noite mais quente lavar-me a cara
oh, sim, e nem sombras nem sorrisos nem blues
para comentar.
Ficarei queda, muda, no canto onde a música
não chega a sentir as entranhas emaranhadas
e aquele vómito que se chama saudade, oh yeah,
do tempo em que os espaços estavam todos cheios
de uma coisa que se chama felicidade, oh,sim.


Nota: poema escrito a partir de "Blues pela morte de amor", de Vasco Graça Moura

agosto 11, 2009

Luar na Lubre

agosto 10, 2009

SAUDADE

Ainda tenho saudades tuas ah se tenho
mas não te quero não te
vislumbro a passar a ombreira
da porta a cantares qual cigarra
de verão quente à minha
janela ah não porque o tempo tem
o dom de tratar destas coisas sofridas
mas da saudade ah essa saudade...

agosto 08, 2009

Leituras de Verão

Poemas, sempre. Lêem-se ao correr dos olhos e enchem-nos a alma.

Ânsia

Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma

As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo

Novembro 1981

Paralelamente, Henry Miller.

Dias Tranquilos em Clichy é a evocação nostálgica e poderosa dos anos em que Henry Miller viveu em Paris, uma época que viria a ter uma influência determinante na sua vida e em toda a sua obra. São os anos em que Miller é ainda um escritor jovem e obscuro, que celebra o amor, a arte e a vida boémia na cidade que, mais do que qualquer outra, o inspira.

agosto 06, 2009

Interlúdio

Aquele que profanou o mar

E que traiu o arco azul do tempo

Falou da sua vitória


Disse que tinha ultrapassado a lei

Falou da sua liberdade

Falou de si próprio como de um Messias


Porém eu vi no chão suja e calcada

A transparente anémona dos dias.



(Sophia de Mello Breyner Andresen in “No Tempo Dividido e Mar Novo”, p. 67)

agosto 01, 2009

Mais Dias Azuis


Praia da Figueirinha - Setúbal